O Brasil ecoa nos quatro cantos do mundo os rufares dos tambores que tanto encanta e unem os povos, despertando neles o interesse de aqui visitar, quando não nesta terra morar. Vivemos em um solo abençoado e somos uma nação diferente: alegres, festeiros, bons "malandros" e, acima de tudo, brasileiros. Mas o preconceito no passado, negou reconhecer os valores criados pelos nossos ancestrais, trazidos de além mar que, de tanto sofrer, extraíram forças da alma para vencer as batalhas e serem os semeadores de uma árvore com raízes fortes, adequada e transformada em frutos- genuinamente samba-brasil. Frutos, agora, apreciados por natos ou radicados em solos verde e amarelo. Mas, a história no passado foi muito mais impiedosa e o preconceito não desapareceu; ele diminuiu. Parte dessa história iniciada há muitos tempos passados, é relatada com honra no período da década de cinqüenta, onde o domínio provinha das classes burguesas e o preconceito racial, social e cultural assolava o samba em São Paulo, tido, nesse período, como reduto de vagabundos, negros e bêbados que não se intimidaram e se propuseram a ser os guardiões do samba, abrindo passagens e carregando a bandeira do mesmo.
Nesse período , os cordões eram o esteio de muitas famílias que, unidas, formavam uma grande sociedade. Culturalmente os negros, sempre marginalizados, encabeçavam as manifestações populares e dessa maneira Seu Inocêncio no Camisa Verde, Pé Rachado no Vai-Vai, Carlão do Peruche na Unidos do Peruche, Madrinha Eunice no Lavapés e Alberto Alves da Silva no Nenê foram os baluartes que plantaram a semente do samba em nosso Estado.
No início, muitos foram os problemas para transformar o sonho em realidade: a repressão da polícia, os maus tratos, a falta de verba, a falta de espaço físico e tantos outros... Entretanto, essas dificuldades foram minimizadas porque junto com os baluartes acreditaram, cultivaram e trabalharam com o mesmo empenho e amor ao samba diversos outros notáveis, tão importantes quantos os acima mencionados: Nelson Primo, Dadinho, Paulo Henrique, Tio Mário, Santa Maria, Cidona, Xúxu, Dona Zéfa, Hélio Bagunça, Donata, Fábio Forato, José Tadeu, Neto Galizi, Vagner Ribeiro, Paulo Aguiar, Wilson Alves, Alice Anália, Djanira Santos, Clarisse Ferreiro, Donivia Camargo, Darcy Alves, Maria Cristina, Maria Ap. Béka, Maria Ap. Oliveira, Maria Ap. Honorio, Maria de Lurdes, Maria da Penha, Maria Silva de Sousa, Olga José, Vera Lúcia Joaquim, Vania Regina, Zulmira Cézar... A semente brotara lentamente, fortalecendo-se ano após ano, dando forma àquilo que seria uma das paixões e cartão postal nacional, o carnaval. A velha-guarda é o celeiro dos bambas dentro de uma escola de samba, pois é a união dos artistas do povo que ao longo da trajetória das agremiações trouxeram, trazem e sempre trarão benefícios, não só para as escolas, mas para o samba em geral. Assim, os caminhos de ingresso na velha-guarda do Camisa não é para qualquer um; é preciso ter uma história, uma relação de carinho e cumplicidade com a nossa bandeira. Hoje, o carnaval está na vitrine e tornou-se um símbolo de status e muitos dos membros da nossa velha-guarda estão contentes porque ao longo dos mais de trinta anos, participando ativamente das atividades da escola, desde a construção da quadra, trabalho em barracão, organização dos ensaios, execução de ritmo a empurrar carros alegóricos, percebem que o samba está evoluindo em uma espiral positiva. Os nossos queridos mestres sempre estão caminhando conosco, não importando as dificuldades a serem vencidas. Poucas seriam as palavras para elogiar cada um desses "raízes", mas aos artistas do povo que morrem sem glórias, o reconhecimento do GRESM Camisa Verde e Branco enaltece a importância de cada um dos integrantes da ala mais querida e fundamental dentro de uma escola de samba, e os imortaliza "os raízes trevianos do samba".
Toda entidade carnavalesca deve prestar os respeitos aos "raízes" do samba porque sambistas iguais a esses, independentemente do cargo que ocuparam e sem interesses materiais, são os referenciais de que o samba pode agonizar, mas jamais findará. São exemplos de dignidade e modelos a seguirmos (novas gerações do samba), pela humilde e cumplicidade com a bandeira que servem, cabendo a nós a humildade de aprender através deles a verdadeira história do samba, páginas vividas por cada um desses desde a época em que a "borracha partia pra cima". Muitos deles estão presentes em nosso convívio e dispostos a trocar um dedo de prosa, agraciando-nos com os "causos", os contos, os relatos e os depoimentos vividos desde a fundação, cordão e transformação para a categoria de escola de samba até os dias de hoje. Privilégio e resgate da origem do samba, para que possamos conservar a verdadeira história do samba plantado há anos no Estado de São Paulo. No Camisa há duas velhas-guardas: a de avenida e a musical, sendo a primeira composta pelos nomes acima citados e a musical por Nelson Primo, o sambista mais antigo de Camisa Verde, que exerceu a função de diretor de bateria, colaborador na harmonia, ritmista e organizador da ala de cuícas e introdutor de pratos nas batucadas de SP, Dadinho, Jamelão, Santa Maria, Tio Mario, Paulo Henrique e Tourão.
Não deixemos de prestar as devidas atenções à nossa amada árvore "Samba-Brasil". A conquista maior para os "velhinhos do samba", certamente não é uma placa ou um busto em bronze, mas a garantia de que tantos outros brasileiros, natos ou não, possam saborear do fruto dessa árvore tão amada e cultivada há séculos pelos nossos antepassados. Méritos a todos os celeiros de bambas do nosso Brasil que, desde o passado até os agora, carregam a bandeira do samba dentro dos vossos corações e que, mesmo com o samba sofrendo preconceitos de ordem social ou econômica lutam não só pelo reconhecimento do mesmo, mas pela valorização de uma peculiaridade: a nossa identidade. Identidade essa não encontrada em lugar algum nos quatro cantos do mundo. Viva o Brasil! "Carregas de pó as páginas do livro e esse nunca mais vos ensinarás. Velha-guarda, a enciclopédia viva do samba"!