sexta-feira, 4 de abril de 2008

Um pouco de conceituação e história do Paritdo-alto

Partido-alto - A arte da improvisação no samba
Tárik de Souza/CliqueMusic
9/5/2000

Com a palavra, alguém que entendia do assunto: "Estão todos cantando samba menor e dizendo que é partido-alto e eu sou um dos errados porque não quero ficar isolado". Aos 65 anos, em 1977, Aniceto Menezes, o Aniceto do Império (um dos fundadores da escola da Império Serrano) admitia no lançamento de seu primeiro disco (dividido com outro partideiro, Nilton Campolino) que o gênero já não era o mesmo iniciado por seus ancestrais. Gerado nas festas religiosas do jongo de procedência rural, batido em tambores chamados de candongueiro, angumavita e caxambu, o partido virou chula raiada, como na exemplar e remota Patrão, prenda seu gado, da trinca fundadora Pixinguinha, Donga e João da Bahiana, registrada pelo cantor e estudioso Almirante. Mas Aniceto, fiel ao tradicionalismo, ditava algumas regras que via desrespeitadas. "O partido tem hora para começar, mas não para acabar, já que os versos são livres, feitos na hora. E precisa da presença do coro", situava. Para ele, a adaptação pedida pelo mercado teve um divisor de águas. "O samba menor foi um recurso que surgiu na época em que Paulo da Portela ficou em evidência, para adaptar o samba aos coristas", garantia. Mal saberia, ele que morreu pobre e esquecido em 1993 aos 80 anos, que o partido-alto ainda sofreria outras modificações até servir de combustível para o movimento conhecido por pagode de fundo de quintal, movido a banjo e tantã. E que até o termo pagode acabaria desvirtuado num samba-pop de duvidosa consistência. Permeando a MPB A própria denominação partido-alto, já insinua algum tipo de superioridade para seus praticantes (turumbambas, no tempo do jongo, segundo Aniceto, daí a encurtada expressão bamba), que deviam desenvolver longas estrofes de seis ou mais versos e voltar ao estribilho. Enfim, o correspondente no universo do samba ao repente/cantoria nordestina. O partido permeia a história da MPB. Pode ser encontrado na assinatura do andarilho dos morros e rodas de malandragem Noel Rosa com o lendário João Mina em De Babado, de 1936, gravado em dupla com Marilia Baptista. Anteriores ainda são Falem de Mim, de Rufino, de 1928, com Alcides Malandro Histórico e Alvaiade ambos da Portela e Quitandeiro (de Paulo da Portela, de 1933, antes da segunda parte escrita depois por Monarco) também por Alvaiade, faixas posteriormente gravadas na série das escolas de samba do selo Marcus Pereira, em 1974. E o partido também pontifica nas batucadas da Baixada e adjacências e nas novas favelas violentas e miseráveis, capturado pelo pernambucano Bezerra da Silva. As rodas de partido moldaram muito compositor, como testemunha Elton Medeiros comentando na gravação de Não Vem (Assim Não Dá), de 1977, que conheceu Candeia numa delas, na festa da Penha. Junto com os dois entram na roda ilustre Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Partideiros como Clementina de Jesus (dialogando com outra figura lendária, o portelense João da Gente) e Xangô da Mangueira além de Aniceto, atestam que esse tipo de samba de melodia curta governado pelo ritmo, mesmo distante das origens é um dos mais evidentes elos entre o gênero urbanizado e sua nascente africana.