quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Velha Guarda Musical do Camisa Verde e Branco



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O Brasil ecoa nos quatro cantos do mundo os rufares dos tambores que tanto encanta e unem os povos, despertando neles o interesse de aqui visitar, quando não nesta terra morar. Vivemos em um solo abençoado e somos uma nação diferente: alegres, festeiros, bons "malandros" e, acima de tudo, brasileiros. Mas o preconceito no passado, negou reconhecer os valores criados pelos nossos ancestrais, trazidos de além mar que, de tanto sofrer, extraíram forças da alma para vencer as batalhas e serem os semeadores de uma árvore com raízes fortes, adequada e transformada em frutos- genuinamente samba-brasil. Frutos, agora, apreciados por natos ou radicados em solos verde e amarelo. Mas, a história no passado foi muito mais impiedosa e o preconceito não desapareceu; ele diminuiu. Parte dessa história iniciada há muitos tempos passados, é relatada com honra no período da década de cinqüenta, onde o domínio provinha das classes burguesas e o preconceito racial, social e cultural assolava o samba em São Paulo, tido, nesse período, como reduto de vagabundos, negros e bêbados que não se intimidaram e se propuseram a ser os guardiões do samba, abrindo passagens e carregando a bandeira do mesmo.


Nesse período , os cordões eram o esteio de muitas famílias que, unidas, formavam uma grande sociedade. Culturalmente os negros, sempre marginalizados, encabeçavam as manifestações populares e dessa maneira Seu Inocêncio no Camisa Verde, Pé Rachado no Vai-Vai, Carlão do Peruche na Unidos do Peruche, Madrinha Eunice no Lavapés e Alberto Alves da Silva no Nenê foram os baluartes que plantaram a semente do samba em nosso Estado.


No início, muitos foram os problemas para transformar o sonho em realidade: a repressão da polícia, os maus tratos, a falta de verba, a falta de espaço físico e tantos outros... Entretanto, essas dificuldades foram minimizadas porque junto com os baluartes acreditaram, cultivaram e trabalharam com o mesmo empenho e amor ao samba diversos outros notáveis, tão importantes quantos os acima mencionados: Nelson Primo, Dadinho, Paulo Henrique, Tio Mário, Santa Maria, Cidona, Xúxu, Dona Zéfa, Hélio Bagunça, Donata, Fábio Forato, José Tadeu, Neto Galizi, Vagner Ribeiro, Paulo Aguiar, Wilson Alves, Alice Anália, Djanira Santos, Clarisse Ferreiro, Donivia Camargo, Darcy Alves, Maria Cristina, Maria Ap. Béka, Maria Ap. Oliveira, Maria Ap. Honorio, Maria de Lurdes, Maria da Penha, Maria Silva de Sousa, Olga José, Vera Lúcia Joaquim, Vania Regina, Zulmira Cézar... A semente brotara lentamente, fortalecendo-se ano após ano, dando forma àquilo que seria uma das paixões e cartão postal nacional, o carnaval. A velha-guarda é o celeiro dos bambas dentro de uma escola de samba, pois é a união dos artistas do povo que ao longo da trajetória das agremiações trouxeram, trazem e sempre trarão benefícios, não só para as escolas, mas para o samba em geral. Assim, os caminhos de ingresso na velha-guarda do Camisa não é para qualquer um; é preciso ter uma história, uma relação de carinho e cumplicidade com a nossa bandeira. Hoje, o carnaval está na vitrine e tornou-se um símbolo de status e muitos dos membros da nossa velha-guarda estão contentes porque ao longo dos mais de trinta anos, participando ativamente das atividades da escola, desde a construção da quadra, trabalho em barracão, organização dos ensaios, execução de ritmo a empurrar carros alegóricos, percebem que o samba está evoluindo em uma espiral positiva. Os nossos queridos mestres sempre estão caminhando conosco, não importando as dificuldades a serem vencidas. Poucas seriam as palavras para elogiar cada um desses "raízes", mas aos artistas do povo que morrem sem glórias, o reconhecimento do GRESM Camisa Verde e Branco enaltece a importância de cada um dos integrantes da ala mais querida e fundamental dentro de uma escola de samba, e os imortaliza "os raízes trevianos do samba".


Toda entidade carnavalesca deve prestar os respeitos aos "raízes" do samba porque sambistas iguais a esses, independentemente do cargo que ocuparam e sem interesses materiais, são os referenciais de que o samba pode agonizar, mas jamais findará. São exemplos de dignidade e modelos a seguirmos (novas gerações do samba), pela humilde e cumplicidade com a bandeira que servem, cabendo a nós a humildade de aprender através deles a verdadeira história do samba, páginas vividas por cada um desses desde a época em que a "borracha partia pra cima". Muitos deles estão presentes em nosso convívio e dispostos a trocar um dedo de prosa, agraciando-nos com os "causos", os contos, os relatos e os depoimentos vividos desde a fundação, cordão e transformação para a categoria de escola de samba até os dias de hoje. Privilégio e resgate da origem do samba, para que possamos conservar a verdadeira história do samba plantado há anos no Estado de São Paulo. No Camisa há duas velhas-guardas: a de avenida e a musical, sendo a primeira composta pelos nomes acima citados e a musical por Nelson Primo, o sambista mais antigo de Camisa Verde, que exerceu a função de diretor de bateria, colaborador na harmonia, ritmista e organizador da ala de cuícas e introdutor de pratos nas batucadas de SP, Dadinho, Jamelão, Santa Maria, Tio Mario, Paulo Henrique e Tourão.


Não deixemos de prestar as devidas atenções à nossa amada árvore "Samba-Brasil". A conquista maior para os "velhinhos do samba", certamente não é uma placa ou um busto em bronze, mas a garantia de que tantos outros brasileiros, natos ou não, possam saborear do fruto dessa árvore tão amada e cultivada há séculos pelos nossos antepassados. Méritos a todos os celeiros de bambas do nosso Brasil que, desde o passado até os agora, carregam a bandeira do samba dentro dos vossos corações e que, mesmo com o samba sofrendo preconceitos de ordem social ou econômica lutam não só pelo reconhecimento do mesmo, mas pela valorização de uma peculiaridade: a nossa identidade. Identidade essa não encontrada em lugar algum nos quatro cantos do mundo. Viva o Brasil! "Carregas de pó as páginas do livro e esse nunca mais vos ensinarás. Velha-guarda, a enciclopédia viva do samba"!


Velha Guarda Musical do Camisa Verde e Branco: Dadinho, Jamelão, Tio Mário, Paulinho, Nelson Primo, Sta. Maria e Mourão.


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Batuque - Festa de São Benedito em Tietê - SP


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Todo ultimo fim de semana de Setembro, a cidade de Tietê no Oeste Paulista festeja São Benedito e no sábado da meia noite até o amanhecer do domingo, uma tradição dos escravos chamada Batuque, é realizado no barracão de uma igreja no bairro de Santa Cruz, suburbio da cidade.


Juntam-se os Batuqueiros, como se chamam quem canta, toca ou dança o Batuque, de três cidades diferentes: Tietê, Piracicaba e Capivari.


Até os anos 50 existiam grupos de Batuque até na capital São Paulo, era uma manifestação típica do Oeste paulista, porém esse é o último grupo que existe e hoje vivem um momento onde os jovens estão se interessando pelo Batuque, criando a possibilidade de continuação, pois por algum tempo o grupo era formado por senhores e senhoras acima de 60 anos. Desde 2000 o selo mundo melhor visita essa festa e a partir de 2003 registra todo ano.


O Batuque é um irmão do Jongo, porém os instrumentos são diferentes desses e a dança não é em roda como no Jongo, mas em pares, sendo a fileira de homens de frente para a fileira de mulheres, que se aproximam e girando dão a Umbigada, as pessoas falam também Batuque de Umbigada, e assim se aproximam do Tambor de Crioula e Samba de Aboio de Sergipe aonde acontece essa aproximação entre os dançantes e que também são tradições dos escravos e serão aqui tratados, pois também já foram registrados pelo Mundo Melhor.


Porém a temática das músicas é diferente, temos as demandas ou desafios típicos no Jongo, mas também temos a música de amor, pois foi nessa mesma região que surgiu a Música Caipira de Raiz, vamos ouvir o Batuque com duas vozes e a crônica da vida cotidiana, como o problema do racismo, a disputa entre o homem e da mulher, os tempos modernos, com e m A turma da Discoteque e vários outros.


No Batuque são todos grandes instrumentistas e cantores, como Seu Romário, Seu Herculano, Seu Dado e vários outros, porém não podemos deixar de destacar Dona Anecide, que é a Rainha do Batuque, pois além de ter uma voz maravilhosa, compõe e improvisa de forma estupenda, esperamos que um dia essa artista genial possa ter seu valor reconhecido.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Uma nova versão sobre a origem do samba?!?




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Essa é uma discussão que foi postada lá no samba-choro que resolvi trazer pra postar aqui, discussão essa que só comprova que o samba ou qualquer outra manifestação cultural-musical-social é realmente mais do que podemos achar, por se tratar de uma manifestação individual de total interação com o coletivo, mais intenso quando se trata de uma comunidade, por essa característica de ter reunido os elementos culturais e sociais num espaço de convívio e participação ativa dos moradores. Não podia ser diferente do que o que veremos abaixo, quanto mais cavar mais vamos achar, infelizmente nossa documentação é recente...principal motivo da existência desse blog...mais informação !!!

A obra defende dois pontos que contradizem aquilo que os historiadores relatam. O primeiro tópico apresentado é que o samba não é de origem negra e sim indígena e o outro afirma a origem do samba como nordestino e não carioca. “Tenho um documento que se refere a uma pessoa tocando e cantando o samba em 1837, no Recife. Enquanto isso, os historiadores desse gênero, como Renato Almeida e José Ramos, contam que o ritmo nasceu no Rio de Janeiro, em 1917”, argumenta Bernardo.




Autor prepara livro para provar que o samba é nordestino e indígena

Publicado no Nordeste Web

Após 20 anos de estudo, o autor diz ter rastreado a origem daquele que é considerado o ritmo nacional
por ROSÁRIO DE POMPÉIA



Onde começou o samba? Essa pergunta foi motivo para que o escritor Bernardo Alves passasse 20 anos (1976 a 1996) pesquisando a resposta em jornais do século passado e entrevistando várias comunidades do litoral e interior. A resposta está no livro Pré-história do Samba, que será lançado no próximo mês, pela prefeitura de Petrolina.


A obra defende dois pontos que contradizem aquilo que os historiadores relatam. O primeiro tópico apresentado é que o samba não é de origem negra e sim indígena e o outro afirma a origem do samba como nordestino e não carioca. “Tenho um documento que se refere a uma pessoa tocando e cantando o samba em 1837, no Recife. Enquanto isso, os historiadores desse gênero, como Renato Almeida e José Ramos, contam que o ritmo nasceu no Rio de Janeiro, em 1917”, argumenta Bernardo.

Para o escritor, a pré-história do samba começou com duas tribos. Quando os Curumbas, do interior do Nordeste, iam para litoral com o intuito de ganhar dinheiro, na época de seca no Sertão. Para festejar a colheita, eles levavam viola e dançavam o ‘semba’, como era chamado. Já os Amocreves levavam especiarias para vender no litoral, principalmente em Goiana, e à noite, quando acabavam o trabalho, dançavam o ‘semba’. “Existe uma gramática da língua cariri de 1699, que fala do samba”, conta.


O contato com o negro, que possui uma grande potencial de assimilação, fez com que o samba ganhasse mais ‘beleza’, incluindo nele as palmas e a umbigada. “Todo engenho tinha uma roda de samba. Com os negros, ele ganhou o atabaque, a cuíca e o gongo”, ressalva. A economia do local fez com que a dança se espalhasse para o Sul. Negros, índios e caboclos estavam indo trabalhar no café. “Um fato importante é que os índios e caboclos desceram para o Sul pelo interior e os negros difundiram esse ritmo pelo litoral”, explica.


Chegando no Rio de Janeiro, cidade famosa pela quantidade de intelectuais que possuía como Ruy Barbosa e Coelho Neto, o ritmo cresceu na Mangueira e ganhou apoio da ‘classe nobre’. “A novidade musical encantou a todos.”


Para comprovar toda sua tese, o escritor conta com depoimentos de estudiosos, como Silvio Salema, que pesquisou por mais de 30 anos a música dos índios brasileiros. Nas suas entrevistas, ele ouviu no Recife, em 1953, uma africana de 115 anos que canta o samba.


OUTRA FACE DA HISTÓRIA– A versão oficial escrita por José Ramos Tinharão e Luciano Galé conta que os índios, depois do contato com os europeus, abandonaram sua cultura. “Quando se vai pesquisar em livros de missões encontram-se histórias do padre Curt Niemandeju, falando que, em 1939, a música era como a vida para os índios. “Os catequisadores trouxeram a orquestra jesuíta com flauta, viola, pandeiro e chocalho”, explica.


Outra ressalva que o escritor faz é que a história da música brasileira foi escrita por africanistas como Arthur Ramos e Miguel Quirino que só teve olhos para o aspecto negro.


“Hoje, tenho mais uma prova viva da minha pesquisa. Quando se visita um grupo de moradores da Ilha Massangano, em Petrolina, verifica-se um grupo de moradores que dançam, há cem anos, um samba de raiz, denominado Samba de Véio”, argumenta.


Toda essa história também resultou numa proposta ‘indecente’. “ Um grupo de baianos me ofereceu divulgar cinco mil cópias do livro se eu deturpasse a obra e contasse que o samba é de origem baiana”, relata. (Jornal do Commercio).





E aí vem a réplica do carioca...


Vou dar pitaco nesse assunto. O samba urbano carioca, como hoje conhecemos, tem origem no maxixe. Não adianta neguinho ficar reinvidicando a paternidade da criança pois o samba, o samba urbano que projetou o Brasil para o mundo, este nasceu no Rio de Janeiro. Vou apresentar em primeiríssima mão um trecho do meu livro "Batuque é um privilégio", para o qual tive a assessoria de Carlos Didier, que muito me ajudou na pesquisa. A coisa começa nas mãos dos chorões. É a partir do maxixe que surge o samba. "Pelo telefone" é um samba-maxixe ou samba amaxixado. Ainda não é o samba que conhecemos hoje. Este samba surge por volta de 1920. Eis o texto do meu livro:

"O samba carioca nasce nos primeiros anos da década de 1910, na Cidade Nova, embalando as festas de tia Ciata e outras "tias" baianas. Tocado ao piano ou acompanhado por instrumentos de cordas e metais, ele é bastante executado em salas de espera de cinemas, coretos e gafieiras até que, em meados da década de 1920 surge na cidade um outro tipo de samba. É o samba batucado nascido no Estácio de Sá sob a influência do partido-alto, com predominância dos instrumentos de percussão, e que tem em Ismael Silva, autor de "Se você jurar", um de seus mais ilustres representantes. De início apenas um refrão, aos poucos ele vai se transformando, trocando os improvisos por segundas partes fixadas poética e melodicamente. Assim se definiu o samba urbano do Rio de Janeiro. Anteriores ao samba batucado, os sambas-maxixes, gênero híbrido, mistura de sambas e maxixes são tocados como se maxixes fôssem..."

A questão é que o termo "samba", me parece, na época era usado para designar "festa", assim como "pagode", ou para designar tudo, sei lá, tipo "vamo fazê um samba". No Nordeste realmente aparece esta palavra mas o som era outro. Repito: o samba urbano que hoje conhecemos é carioca. Qual é o problema? Porque todo mundo quer ser o pai da criança? Será pra ganhar uma grana?

Oscar Bolão

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

DA FESTA DA COLHEITA AO CARNAVAL AÉREO



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Pobre vira rei, rainha, princesa. Magia, cor e movimento. São quatro dias sem regras que controlem a explosão de sensualidade e alegria, que culmina com o carnaval tipo exportação do sambódromo, cada vez mais aéreo e menos samba-no-pé.





A origem da festa se perde no tempo. Dez mil anos antes de Cristo, povos já se reuniam com rostos mascarados e corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. Egípcios festejavam a deusa Ísis, a lua, o boi sagrado Ápis. Gregos dançavam e cantavam celebrando a volta da primavera como o renascer da natureza.
Portugueses trouxeram a farra para o Brasil, com o entrudo, às vezes violento, com muita correria e batalhas de farinha, água, fuligem e cal pelas ruas. Festa e diversão, aqui e na Europa, em Paris, Nice, Veneza, Roma, Nápoles, Florença, Munique. Mas nada que se compare ao carnaval brasileiro.

O Brasil colonial registra os primeiros indícios, quando negros desembarcados na antiga capital e os emigrados da Bahia se reuniam perto do porto carioca para cantar e dançar nas horas de folga, ao som de instrumentos rústicos. Eram as primitivas rodas de samba, onde as baianas se destacavam. De dia, vendiam quitutes em tabuleiros; à noite, mostravam sua cadência. As rodas foram crescendo; e os batuqueiros, gente humilde, subindo os morros. Desciam para dançar na cidade, formando grupos que receberam os nomes de cordões, blocos e ranchos.

Da Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira das confrarias negras, nasceram grupos que também dariam origem a cordões, como o dos Velhos e o dos Cucumbis. Participavam sambistas tradicionais como Donga e João da Baiana, importantes na formação das escolas de samba.
Cordões tinham nomes curiosos, como Destemidos do Livramento ou Vitoriosos das Chamas. Blocos se formavam entre amigos que trabalhavam juntos ou moravam no mesmo bairro. E rancho era uma espécie de cordão organizado, com presença feminina e instrumentos mais ricos, como violão, cavaquinho, flauta e clarinete. Tinham músicas próprias, marcha e samba, porta-estandarte e coreografia.





Contrastando com o samba dos pobres, em 1855 surgem as sociedades, formadas por brancos de classe média e aristocratas, que se reuniam para discutir negócios, jogar cartas, beber e preparar o carnaval. Nos desfiles, lançavam desafios umas às outras em versos de poetas conhecidos, como Olavo Bilac e Emílio de Meneses. Faziam sátiras ao governo, defendiam movimentos sociais como a libertação dos escravos e contavam com nomes famosos, a exemplo do abolicionista José do Patrocínio, que pertencia à Tenentes do Diabo. Em 1864, a sociedade não desfilou porque doou o dinheiro arrecadado entre os sócios para a alforria de doze escravos.

A riqueza do carnaval brasileiro deve muito às sociedades. Faziam festa colorida, com mulheres arrumadas, fantasias luxuosas, carros alegóricos e fogos de artifício. O povo se espremia nas calçadas para aplaudir e comerciantes alugavam suas janelas para quem quisesse ver melhor. Nos bailes, eram obrigatórias as máscaras e as batalhas de confetes. Foram as sociedades que criaram os concursos de fantasias e instalaram o luxo no carnaval.



A PRIMEIRA ESCOLA DE SAMBA NASCEU NO ESTÁCIO DE SÁ






É verdade. As escolas nasceram ali em agosto de 1928, quando Ismael Silva fundou a Deixa Falar para fugir da indisciplina dos blocos e da rigidez dos ranchos. O nome foi uma resposta aos bairros que escondiam rivalidades e se uniam contra o Estácio, que se achava o melhor no samba. Ismael tinha como parceiros Nilton Bastos, Alcebíades Barcelos e Heitor dos Prazeres. Juntos, introduziram no samba a nova batida e o ziriguidum. Foram os primeiros compositores a despertar o interesse de cantores profissionais. Deixa Falar promoveu a maior mudança do carnaval: deu origem ao samba-enredo e às escolas atuais. Todos os anos seus integrantes desciam o morro para desfilar na Praça Onze e incitavam o povo a participar.

Depois da Deixa Falar, sambistas de vários morros formaram outras escolas e passaram a ir para a Praça Onze. Entre elas, a Cada Ano Sai Melhor, de São Carlos; Estação Primeira, de Mangueira, fundada por Cartola para unir todos os grupos de batuque do morro; Azul e Branco, do Salgueiro; Fiquei Firme, da Favela; e Vai Como Pode, de Osvaldo Cruz, atual Portela.

A exibição dos grupos gerou disputa e em 1932 o jornal Mundo Esportivo promoveu concurso para escolher a melhor escola. Saiu campeã a Mangueira, com o samba-enredo A Pátria Querida, de Carlos Cachaça. Três anos depois foi oficializado o concurso das escolas de samba do Rio de Janeiro, que teve a Portela como primeira vencedora.


POR QUÊ ESCOLA DE SAMBA?

Há quem diga que o nome veio de um grupo da pesada, que se inspirou na Escola Normal Estácio de Sá. O compositor Ismael Silva, primeiro a usar o termo, dizia que esta é a verdadeira origem e que a expressão foi adotada por causa dos professores da escola.

“Se havia lá uma escola com professores e normalistas, por que não poderia haver também outra de samba, com seus mestres e alunos?”
Para o musicólogo Almirante, o termo surgiu graças à popularidade dos instrutores dos tiros-de-guerra, que bradavam “Escola! Sentido!”. O termo pode ter vindo, segundo a escritora Eneida, dos ranchos-escola, onde se aprendia a cantar, dançar e sair em cortejo. O cronista carioca Jota Efegê dizia que os velhos batuqueiros dos morros da Providência e da Favela usavam o termo antes de 1928. E a denominação pode até ser do século passado, afirmava o jornalista Brício de Abreu, que num recorte da revista Gil Brás, de março de 1898, leu ... cordão carnavalesco exótico “Escola de Samba e da Serenata”.

Seja qual for a origem do nome, a escola de samba é talvez a maior criação do povo brasileiro, exemplo de organização e trabalho feito com amor e alegria.



EM SÃO PAULO O SAMBA COMEÇA NOS CORDÕES CARNAVALESCOS







Em São Paulo, o samba também é herança dos negros mesclada às tradições dos imigrantes. O primeiro grupo a sair às ruas foi a Sociedade Paulicéia Vagabunda, que desfilou em 1850 com carros alegóricos e mulheres estourando garrafas de champanha, escandalizando a população. No final da década, foliões fantasiados e mascarados faziam seu carnaval, elegendo até um Rei Momo e misturando-se a pequenos cordões e às baianas, que aproveitavam para vender seus quitutes em barracas na Praça da Sé e nas ruas Direita, 15 de Novembro e São Bento, limites da festa.

Cordões mais organizados surgiram em 1914, com Dionísio Barbosa, paulista que viveu no Rio de Janeiro. Ele fundou o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, que desfilava nas ruas do bairro, e depois vieram Campos Elíseos, Mocidade do Lavapés, Paulistano e Cordão Esportivo e Carnavalesco Vai-Vai, representante do Bixiga. Formados em geral por uma só família, desfilavam sem roteiro fixo e deles nasceram as escolas de samba paulistanas.
A primeira nasceu em 1937, surgida do bloco Baianas Paulistas. Vieram depois a Lavapés, Rosas Negras, Brasil Moreno, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche, Camisa Verde e Branco e Vai-Vai, que disputavam as palmas do povo em concursos sem regras. Até 1957 cada uma se apresentava como queria e os componentes faziam a própria fantasia.

Nos dez anos seguintes, os desfiles foram patrocinados por comerciantes e somente em 1968 oficializados pelo prefeito Faria Lima. A partir daí as escolas de São Paulo e de outras regiões do País passaram a se estruturar dentro do modelo carioca.



QUE FIM LEVOU O SAMBISTA TRADICIONAL?


O sambódromo foi a pá de cal na importância do sambista tradicional para a estrutura das escolas de samba. O luxo das fantasias, a altura dos carros alegóricos, o desfile cronometrado trocaram o samba-no-pé pelo visual.

“Dispostas no chão [grifo nosso], desfilando, todas as escolas apresentam as seguintes particularidades: canto e dança – a forma de expressão é o samba, que se exterioriza na escola, através do canto e da dança. A escola em peso canta o samba-enredo, desenvolvendo uma dança. O ato de sambar.”

Assim, os sambistas e historiadores Amaury Jório e Hiram Araújo descrevem a atuação das escolas de samba, a partir da primeira delas, a Deixa Falar, na festa carnavalesca do desfile anual.

Até o início dos anos de 1960, era assim. Desfile com compositores, bateria, passistas, baianas, mestre-sala e porta-bandeira, diretor de harmonia. A qualidade dos sambas-enredo ajudava a determinar a posição final da escola, na competição. E todas iam para a avenida brincar o carnaval. Espontaneamente, com a criatividade, o samba-no-pé, a arte popular aflorando no canto, na dança, os elementos básicos.

A classe média descobriu a folia e começou a se infiltrar e se apropriar de uma cultura que não era sua. A Mangueira protesta contra um jurado que declarou não dar nota boa a uma escola com cores de tamanho mau gosto. Ao vislumbrar os lucros, as escolas começaram a cobrar ingresso para os ensaios, em 1962, transformando-os lentamente em festas. Em 1963, o Salgueiro desfila com uma ala dançando minueto, coreografada por Mercedes Batista. O velho samba no pé perdia terreno. Os artesãos foram substituídos pelos cenógrafos. Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta são os pioneiros, sempre no Salgueiro. Os conservadores protestam, os inovadores aplaudem as mudanças, e cada vez menos sambistas são vistos nas escolas.

O relógio passa a aprisionar os desfiles. Com isso, os sambas ganham velocidade e perdem ritmo, para ajudar a cruzar a pista dentro do tempo. O Sambódromo é construído, justificando o nome, cujo sufixo dromo quer dizer “corrida”. As altíssimas arquibancadas levam o público para as alturas e os carnavalescos apelam para carros alegóricos cada vez mais altos, onde é impossível sambar. Luxuosos fantasiados agarram suportes para não cair e fingem cantar o samba. Mulheres, cada vez mais nuas, distribuem beijos e insinuações erotizantes. O olho das televisões mostra tudo para milhões de pessoas, no mundo inteiro. Segundo os comunicólogos, o maior espetáculo semovente do planeta.

O samba, os sambistas, as baianas, as passistas? Não fazem a menor falta neste maravilhoso show. Afinal, como poderiam eles sambar, pendurados a seis metros do solo?